por iza.sardenberg
19/07/2014 15:55:12
Aconteceu ontem na sede do CRP-SP o I Encontro Estadual da ABRASME. Mais de duzentas pessoas lotaram o auditório do conselho para conversar sobre as Conjunturas das Políticas Públicas no Brasil
Abertura: Boas vindas e Apresentação da ABRASME
Paulo Amarante (Vídeo)
15h30
Mesa: Os desafios da Saúde Mental no Estado de São Paulo
Rosana Onocko
Antonio Lancetti
Silvio Yasui
17h
Eleição Comissão Estadual
Formação grupos de trabalho temático
Elisa Zanerato Rosa ( CRP-SP ) e Fábio Belloni ( ABRASME ) coordenaram a mesa e abriram os trabalhos com o vídeo de Paulo Amarante, com uma mensagem que congregou a todos para a ativação de redes em torno do cuidado em saúde mental no estado.
Rosana Onocko ( foto ), “sanitarista com formação médica”, como ela própria se apresenta, marcando com isso um lugar diferente.
Reproduzimos aqui uma parte da sua fala:
O velho adágio “a luta continua” nunca foi tão contemporâneo. São Paulo precisa de luta redobrada pois as tentativas de recuar para modalidades retrógradas de cuidado com a saúde mental estão muito presentes. É o estado com o maior numero de leitos em hospitais psiquiátricos.
Os métodos de cuidado das comunidades terapêuticas se pautam pela mesma reclusão e regimes de trabalho escravo, como deixam entrever as recentes denúncias de usuários.
O Ministério da Saúde estimulou pesquisas sobre a saúde mental do ponto de vista da cobertura, implantação das políticas públicas e, com isso, temos muitos dados onde nos amparar. Há problemas, mas também avanços.
A revista Lancet publica indicadores de saúde mental no mundo todo e toma o caso brasileiro como um dos que mostra avanços. Hoje o desafio de trabalhar de forma menos médico-cêntrica é disseminado pelo mundo afora. A política de leitos em hospitais gerais se alastrou.
Temos rede rica em termos de variabilidade de categorias não médicas.
Saúde mental não é psiquiatria somente.
Os médicos cubanos, cuja formação enfatiza a saúde mental no território, estão assustados com a fragilidade dos laços sociais nestes territórios. Testemunham o vazio de trocas afetivas e sociais, as vidas empobrecidas por falta de compartilhamento.
Rosana saúda a Abrasme em São Paulo e lembra que “se não combatermos, seremos combatidos”.
Sílvio Yassui:
Sou um dos signatários da fundação da ABRASME e, pela via da supervisão institucional, tenho acompanhado os desafios e retrocessos de um estado que já foi exemplar em termos de experiências inaugurais no cuidado em saúde mental. A experiência de regionalização nos anos 80, com o desmonte do Hospital do Juquery, o caso de Santos e o Apoio Paidéia em Campinas nos anos 90 foram emblemáticos.
Hoje viramos resistência, como por exemplo no Movimento “Resiste Campinas”. Precisamos ocupar os espaços e fazer política no cotidiano dos serviços. A psiquiatria como centro do lugar de cuidado em saúde mental aparece nas modalidades de ambulatórios de psiquiatria e psicologia superlotados e com medicamentos como modo hegemônico hoje.
O modo de subjetivação que toma a medicação como resposta mais frequente e “natural” para o sofrimento psíquico deve ser um desafio a ser enfrentado por todos para a invenção de novos modos.
O estado somos nós e reencantar o cotidiano, reinventar o que fazemos, é o caminho. Os trabalhadores da saúde precisam de um espaço de palavra e criação de potência no trabalho.
Fala da atenção não como locus mas como modo de operar, ethos, valor e acontecimento. Termina relembrando um conto de Galeano, “A Função Da Arte”, onde um filho pede ao pai que o “ajude a olhar”. O conto como ferramenta para se pensar no acompanhamento aos jovens trabalhadores da saúde pela produção de saber dos mais “velhos”. Belíssima lembrança de Sílvio.
jovem trabalhador na platéia
foto de Fábio Belloni ( facebook )
Lancetti:
Constata alegremente que estamos aqui numa numa sexta-feira à tarde com mais pessoas que cadeiras.
Inicia a sua fala lembrando que São Bernardo é uma das melhores experiências de cuidado do país. Assim como Sílvio, pensa que é preciso termos instâncias para conversar. E perder o medo de disputar sentidos com os modos mais reacionários de intervenção. Se Ronaldo Larangeira afirma que o uso do crack é doença recidivante, onde quem usa a droga uma vez nunca mais vai parar, afirmaremos as novas abordagens como o programa “Braços Abertos”. Mudar o foco para a garantia de direitos como cuidado e não na droga como alvo de combate.
Homenageia José Ruben de Alcântara Bonfim ( na platéia ), outro sanitarista de formação médica, chamando-o de mestre e referindo-se aos ensinamentos deste sobre a “epidemia” do crack. Zé Ruben atua na assistência farmacêutica da Secretaria Municipal de Saúde e colocou na roda a iniciativa de criação de portaria ( 986/2014 ) para a regulação da prescrição de metilfenidato em São Paulo. A prescrição generalizada deste medicamento pode ser considerada como o emblema de manicomializacão da infância hoje. Outra questão importante é a recente institucionalização de crianças e adolescentes autistas nesta escalada da medicalização da vida.
Leo Pinho no facebook hoje:
Diversas regiões do Estado de SP se fazem presentes no I Encontro Estadual da Abrasme SP. Todos que falaram deixaram claro a necessidade de reagruparmos, de irmos para ação. #LutaAntimanicomial SP #VemparaLuta